quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Manuel Bandeira

Que falta que me faz um Bandeira nos dias atuais. Não tenho dúvidas que se estivesse ele entre nós, as coisas se explicariam por si só com o consentimento do tempo, de que leria atentamente cada nova citação com brilho nos olhos e deixaria os problemas isolados. Queria ser descendente de Manuel Bandeira, faria os sinos e as cachoeiras se alinharem seria um som com maestria, receberia Pasárgada como herança, as coisas seriam soltas, mas no lugar. A coroa da simplicidade que ele tinha passaria para mim, passaria a ler notícias de jornal e teria o maior amor por um porquinho da índia que mora embaixo do fogão, minha alma seria incomunicável. Eu poderia desenrolar o fio do amor e ir marcando territórios pelo coração das pessoas sem sequer parecer parnasiana, podia até pegar um tantinho de apreço por Recife do Brasil, não me importaria em curtir uma Libertinagem neste lugar. Se a vida permitisse seria filha de Teresa e amiga de Irene, aprenderia a dançar com elas no ritmo de um trem; o último poema de Bandeira seria o meu ponto de partida, e os próximos, tristes. Seria protestante a favor de poemas-piadas, tocaria flauta de papel olhando para cada borda do mar, saberia todos os conceitos de todas estrelas, usaria óculos para corrigir meu mundo. Certamente saberia expressar minha tristeza como ninguém, me entregaria ao absoluto dom da infância nas minhas nostalgias.. seria o céu e a escuridão da própria guerra que trilhei.


Lísia Nicoloso